segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O líquido castanho

É verdade, já passou quase uma semana que não escrevo. O trabalho tem sido muito, o tempo diminuto, e este esbelto corpo de tão bonitas proporções, não aguenta os sofridos encargos ao qual tem sido submetido….Pronto ok, na realidade não me tem apetecido escrever! Mas o que aconteceu na quinta-feira passada fez-me voltar a escrever mais umas das minhas histórias.

Já há muito que sentia a falta dela. Já há muito que ela me fazia olhinhos de cada vez que nos cruzávamo-nos, e já há mesmo muito tempo que eu ansiava por voltar a entrar dentro dela. E entrei! Voltei à minha querida faculdade para mais uma festa do caloiro. Gostei mesmo de rever a imensidão de amigos que lá tenho e de saber as novidades da cambada toda. A noite estava a correr bem. A conversa estava boa, a bebida deslizava tranquilamente e sem pressões externas, as frases ainda eram articuladas da forma correcta, os passos eram dados sem aparente dismetria e as raparigas feias permaneciam feias. Até que, sem aviso prévio, me é oferecido numa simples garrafa do Luso um líquido de tom acastanhado. Recusei, como é óbvio, aquela bebida de origem duvidosa. Insistiram com veemência. Voltei a negar. Foi então que recorreram ao meu único ponto fraco, o meu estatuto de veterano perante um caloiro. Não tive hipótese de ripostar. Tinha que mostrar àquele menino de coro de que é feito um verdadeiro veterinário. Tinha que mostrar aos meus desafiadores que aqueles 5 anos tinha servido para alguma coisa e que aquelas manhãs enevoadas nas aulas de parasitologia, a bater com a cabeça nos microscópios, tinham um significado mais profundo do que o simples escurecimento da sala. Era preciso mostrar o porquê de ter sido aprovado com distinção na cadeira opcional de “Matraquilhologia e Copofonia Aplicada”.

Ingeri o líquido de uma assentada. O caloiro abismado caiu a meus pés e, tal como o ateu que vislumbra um milagre, ele vislumbrou em mim o modelo de vida que nunca teve, ele viu na minha pessoa a verdadeira razão de ter entrado em veterinária.
Ao invés do caloiro, eu deixei de ver. A ele e a tudo o resto que me rodeava. Os minutos seguintes foram simplesmente surreais.

#CONTINUA

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